domingo, 20 de dezembro de 2009

Continuação

E no outro dia li:

“Com o mundo completamente parado, com a idade parada, não é difícil parar também e, rodeados de fragmentos: uma existência inteira feita de vidro estilhaçado e espalhado no chão: o mais natural é baixarmo-nos sobre os calcanhares, pousar os cotovelos sobre os joelhos dobrados e, com cuidado, esticar as mãos para, com a ponta dos dedos, se começar a escolher cada fragmento, distinguir o que se deve abandonar do que se deve manter. Desistir não é sempre mau. Há vezes em que não se pode evitar. Todos nos dizem continua, continua, mas é o mundo que desiste, inteiro, à nossa volta.” José Luís Peixoto
E fiquei a pensar que havia muita razão nestas palavras, eu por defeito tenho imensa dificuldade em assumir que se falhou, que falhei. Ninguém gosta de ver os seus projectos e sonhos deitados por terra, mas acontece mais vezes do que a minha esperança gostaria e continuar a insistir nem sempre é o que deve ser feito, aceitarmos e desistirmos nem sempre é uma derrota. Tomara eu ter desistido a tempo, não tive essa capacidade, é muito fácil criarmos ilusões e alimentá-las com qualquer sinal, até o silêncio alimenta ilusões descobri eu.Tomara eu ter desistido, não porque não acreditasse, mas simplesmente porque o mundo inteiro à minha volta tinha desistido e não é cobardia ou comodismo, é saber ver com olhos de quem quer ver. Enquanto vai amanhecendo e a minha vontade de sair à rua varia e me continuo a lembrar de ti, sei que desisti daquilo que não tinhas para me dar, desisti da ilusão que insisti em construir. Desisti de ti, mas não de mim.

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