domingo, 6 de dezembro de 2009



No outro dia disseram-me: “Zangue-se!” e eu de olhos arregalados, espantada na minha irritante calma... Zanguei-me. Zanguei-me com as pessoas no autocarro, zanguei-me com a ausência das pessoas, zanguei-me com a incompetência dos médicos, zanguei-me com a inércia, zanguei-me quando me fizeram esperar, zanguei-me com a televisão, zanguei-me com o computador lento da agência, zanguei-me com quem me olha e com quem não me olha, zanguei-me com as manhãs e com as noites frias, zanguei-me quando não disseste nada e quando disseste. Fiquei zangada com os buracos da minha rua, com a calçada, com as pessoas na fila do supermercado, zanguei-me com o telemóvel, declarei guerra aos zangados, zanguei-me com os amargurados, zanguei-me com os azedos e com os excessivamente doces, zanguei-me com gente idiota, zanguei-me com gente inteligente. Zanguei-me com quem nunca me zanguei, com este, com aquele, com o de sempre. Estou zangada contigo e vou continuar, zanguei-me com as pessoas da minha vida e com as outras todas, zanguei-me com as horas livres, zanguei-me com o que tenho para fazer, zanguei-me com o sono e quando tenho que acordar de manhã. Zanguei-me contigo que não fizeste nada. Fico zangada e digo que estou zangada. Não me zanguei comigo e estava quase a acontecer.

Zai

Sem comentários:

Enviar um comentário