quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

na descoberta do que existe...

não pretendo escrever muito do que penso... acho que seria uma ofensa a quem o lê e para os que o sabem fazer... prefiro partilhar aquilo que ajuda a perceber o que penso, o que sinto, o que sei... e o que procuro...

Para partilhar aquilo que considero ser o final da história... de uma história...

<...Pi...>

"Num livro recente afirma-se que «não é invulgar que dez a quarenta por cento das crias das aves monogâmicas tenham como progenitor um macho exterior ao casal». A afirmação, tão esclarecida de um zoólogo, seria motivo para tomarmos a biologia como uma «fatalidade».Não acho que seja assim. Tenho dito que a infidelidade, ao contrário das tradições, ainda é o que era: nunca existiu. E que é saudável que «pequemos» por pensamentos e por omissões... pelo menos. Saudável, porquê? Porque a nossa capacidade para atentar na beleza desperta desejo, e esse movimento é, por muito que nos recomendem o contrário... «fatal». Isto é, biológico, felizmente. Por muito que reclamemos sermos donos dos nossos sentimentos, a beleza não pára de nos surpreender com apelos que nos chamam para a vida e nos desassossegam por dentro.Passar dos «pecados» por pensamentos e por omissõesaos actos, já depende das relações que cada pessoa sente que valem a pena. Isto é, seria razoável que distinguíssemos a infidelidade compulsiva das experiências de infidelidade (que, para muitas pessoas, poderão ser formas de pôr em dúvida as relações que têm, e de perceberem, com clarividência, a vida que elas lhes dão ou aquilo que lhes «roubam»).Como já reparou, pus sempre o pecado entre aspas. É uma forma de, com alguma serenidade, assumir que, também nas relações amorosas, somos só pessoas. Ao contrário de alguns governantes, todos nos enganamos e não são raras as vezes em que temos dúvidas. (Aliás, devíamos remeter para um «museu da tecnocracia» aquela tendência que faz com que as pessoas sejam implacáveis com as manifestações humanas.., dos outros, quando elas, sem esse fundamentalismo, parecem não se sentir capazes de conter as suas.)Já a infidelidade compulsiva é doentia. Não só por ser uma forma irreprimível de transformar os sentimentos doutras pessoas num produto descartável, mas porque ignora, com arrogância, as expectativas da pessoa que estará consigo e que, por vezes, corre o risco de se desqualificar e de se diminuir como se aceitasse, com benevolência, ser a terceira, ou a quarta escolha de alguém."

Eduardo Sá in Tudo o que o amor não é

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